sábado, 26 de abril de 2008

Senhor da culpa

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Eu, senhor da culpa,
Vou despertando uma vida que só me desanimara
Cansando-me de viver e reler o passado
Pra perceber que nessa vida,
Mágoa jogada no escuro não sara.
Que ferida que se cala não se cura.
Que a vida se vai, e se vai pra nada.
E que por ela toda passei sendo a voz que cala...
Sendo máscara de plástico na estante
Sendo a farsa do encanto na escada
Sendo o breque que falha na freada
Sendo, de todo momento, um instante
O príncipe caído do cavalo
O custo montante de um erro sem reparo,
E o cutucar de uma dor constante,
Que sem consolo e sem amparo
Se torna preço caro pra se levar adiante...

quarta-feira, 9 de abril de 2008

Grão

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Aos incompreensíveis, de ouvidos impacientes pras lamúrias alheias:
Somos todos confundíveis!
Ignorantes conscientes (?)
Ou pequenos grãos de areia?
Numa praia infinita?

Se for, não faz sentido
Que ajas assim comigo
Pensando ser grão melhor que eu
Agindo como age um fariseu
Que acha que melhor está
Por se encontrar mais perto do mar.

O mar, como devia ser do conhecimento seu
Vai te desgastar o grão, até, enfim, te esfarelar
Tornar-se-á, então, grão pequeno como eu
E como fortaleza que pereceu
Sua triste sobra afundará
No esquecimento da imensidão que há
Na ressaca de um mar que enlouqueceu.

E, pior que ser como eu,
Areia sob o sol quente,
Será ser grão que ser perdeu
E aí sim será n’água diferente
Pois do atol se faz ausente
Onde, sob o sol, estão presentes
Todos os grãos de areia como o seu.

sábado, 5 de abril de 2008

Cartilha Abstrusa

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[...]
E nisso, nossos espíritos vigilantes,
Diletantes na arte de sentir,
Fazem surgir em aflitos semblantes
Sobejantes desejos de destruir,
Irônicos gracejos que se mostram anuir
O fazer emergir dos sentimentos conflitantes
E que se deixe eclodir as amarguras palpitantes...

Que nos entreguemos à guerra,
Permitindo que a terra
Invada nossos corpos ofegantes
E, se no mar, que morramos pela água suja impedindo a respiração,
E, se no chão, lutemos de mãos limpas, desmontados dos cavalos arfantes
Com a mente nua de altruísmos falsos ou das dores constantes
Em busca da essência, da qual ficamos tão distantes
Refutando a decadência, que no revolver se faz obstante.