segunda-feira, 19 de maio de 2008

A mágoa e a herança.

Vem ver! Se levante!
Pode ouvir dali, logo adiante?
Não rasteja, não flutua e nem se arrasta
Caminha calmo, compassado e firmemente
Enquanto seu perfume doce (demasiadamente)
Pelas frestas do seu quarto se alastra
E teu corpo treme, a alma geme.
E mais ainda treme a tua mão
Que leva o copo d’água à boca seca.
E a boca seca busca o ar pro seu pulmão
Mas parece que, quando mais se tenta
Mais se tem vontade de chorar.
Parece que, com o tempo, a lágrima esquenta
O pensamento, sua raiva, seu empenho em odiar.

O desespero toma sua mente afinal
Ao ouvir o som que o medo faz no seu quintal
Se aproxima...
Bate contra o piso uma botina.
Velha, desbotada e encardida.
Barba grande, mas bem aparada.
Unha suja de terra, mal cortada.
Ignorância!
Traz no rosto uma cicatriz.
Uma lembrança.
Não sorri.
Nem abre a boca em abundância.
E antes de dormir
Descarrega a fúria dele
Sobre um corpo débil de criança.