sábado, 30 de agosto de 2008
sexta-feira, 11 de julho de 2008
Paliativos Definitivos
Sentado no canto mais escuro do quarto
Sentia gotejar um peso em meio ao cenho
O sangue que n’outrora fora jorrado
N’estante cria formas que parecem desenhos
São como as nuvens de um céu avermelhado
Estranho e triste e aconchegante ao mesmo tempo
Escorre espesso pelo chão quadriculado
Pinta no teto maculado, hipnotizantes damas de vento
Um calafrio te percorre a espinha
O sol insiste em não querer nascer
- Sua noite vai ser melhor que a minha
Dizes ao corpo olhando vagamente pra você
É aliviante... Mas também apavorante
A sensação de não mais ter um amor destrutivo
Desesperador... E instigante.
E amanha? Como vai ser o dia sem castigo?
Seu coração se esvazia do rancor
É hora de se levantar, pegar a pá, se recompor!
- Nunca vamos nos separar, meu amor!
- Nunca vamos nos separar!
Eternamente vigiarei teu corpo imerso nesse torpor
Dia após dia, cuidar da terra que conserva seu calor.
segunda-feira, 19 de maio de 2008
A mágoa e a herança.
Vem ver! Se levante!
Pode ouvir dali, logo adiante?
Não rasteja, não flutua e nem se arrasta
Caminha calmo, compassado e firmemente
Enquanto seu perfume doce (demasiadamente)
Pelas frestas do seu quarto se alastra
E teu corpo treme, a alma geme.
E mais ainda treme a tua mão
Que leva o copo d’água à boca seca.
E a boca seca busca o ar pro seu pulmão
Mas parece que, quando mais se tenta
Mais se tem vontade de chorar.
Parece que, com o tempo, a lágrima esquenta
O pensamento, sua raiva, seu empenho em odiar.
O desespero toma sua mente afinal
Ao ouvir o som que o medo faz no seu quintal
Se aproxima...
Bate contra o piso uma botina.
Velha, desbotada e encardida.
Barba grande, mas bem aparada.
Unha suja de terra, mal cortada.
Ignorância!
Traz no rosto uma cicatriz.
Uma lembrança.
Não sorri.
Nem abre a boca em abundância.
E antes de dormir
Descarrega a fúria dele
Sobre um corpo débil de criança.
sábado, 26 de abril de 2008
Senhor da culpa
Eu, senhor da culpa,
Vou despertando uma vida que só me desanimara
Cansando-me de viver e reler o passado
Pra perceber que nessa vida,
Mágoa jogada no escuro não sara.
Que ferida que se cala não se cura.
Que a vida se vai, e se vai pra nada.
E que por ela toda passei sendo a voz que cala...
Sendo máscara de plástico na estante
Sendo a farsa do encanto na escada
Sendo o breque que falha na freada
Sendo, de todo momento, um instante
O príncipe caído do cavalo
O custo montante de um erro sem reparo,
E o cutucar de uma dor constante,
Que sem consolo e sem amparo
Se torna preço caro pra se levar adiante...
quarta-feira, 9 de abril de 2008
Grão
Aos incompreensíveis, de ouvidos impacientes pras lamúrias alheias:
Somos todos confundíveis!
Ignorantes conscientes (?)
Ou pequenos grãos de areia?
Numa praia infinita?
Se for, não faz sentido
Que ajas assim comigo
Pensando ser grão melhor que eu
Agindo como age um fariseu
Que acha que melhor está
Por se encontrar mais perto do mar.
O mar, como devia ser do conhecimento seu
Vai te desgastar o grão, até, enfim, te esfarelar
Tornar-se-á, então, grão pequeno como eu
E como fortaleza que pereceu
Sua triste sobra afundará
No esquecimento da imensidão que há
Na ressaca de um mar que enlouqueceu.
E, pior que ser como eu,
Areia sob o sol quente,
Será ser grão que ser perdeu
E aí sim será n’água diferente
Pois do atol se faz ausente
Onde, sob o sol, estão presentes
Todos os grãos de areia como o seu.
sábado, 5 de abril de 2008
Cartilha Abstrusa
[...]
E nisso, nossos espíritos vigilantes,
Diletantes na arte de sentir,
Fazem surgir em aflitos semblantes
Sobejantes desejos de destruir,
Irônicos gracejos que se mostram anuir
O fazer emergir dos sentimentos conflitantes
E que se deixe eclodir as amarguras palpitantes...
Que nos entreguemos à guerra,
Permitindo que a terra
Invada nossos corpos ofegantes
E, se no mar, que morramos pela água suja impedindo a respiração,
E, se no chão, lutemos de mãos limpas, desmontados dos cavalos arfantes
Com a mente nua de altruísmos falsos ou das dores constantes
Em busca da essência, da qual ficamos tão distantes
Refutando a decadência, que no revolver se faz obstante.
sábado, 22 de março de 2008
Amoldado
Vou afiando a faca que outrora me matara
Com gratidão e servidão a minha eterna adversária:
A vida.
Que vai se esvaindo,
E eu vou indo, junto.
Por ser produto do conjunto que formamos
Ser poço fundo que com ela fui cavando...
Um moribundo, que abraçado num segundo,
Vai praguejando...
Que se deus quiser, não há de durar muito,
O mundo humano.