sábado, 22 de março de 2008

Amoldado

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Vou afiando a faca que outrora me matara
Com gratidão e servidão a minha eterna adversária:
A vida.
Que vai se esvaindo,
E eu vou indo, junto.
Por ser produto do conjunto que formamos
Ser poço fundo que com ela fui cavando...
Um moribundo, que abraçado num segundo,
Vai praguejando...
Que se deus quiser, não há de durar muito,
O mundo humano.

sábado, 8 de março de 2008

Pra ser não é preciso saber

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Eu sou a impossibilidade de voltar atrás,
Um pedido de perdão que jamais perdoa,
A prontidão de ajudar quem nos desprepara,
A dor de consolar quem nos desconsola,
A vontade de amar quem nos abandona...

Eu sou, mas não se pode ver.
E vejo que, mesmo verdade não tendo, posso dizer
Que fiz tudo pra ser, num momento,
Sua felicidade etérea,
Sua brincadeira mais séria,
O mais entusiasmado estupor.

Poema de minutos

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Vou fundo o quanto posso
Passo o dia a observar o mundo
Faço força pra passar a fossa
Possa ela me abraçar ou não.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Silencia a dor.

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Ao passo que aparo a chuva
Disfarço a loucura, deixando o chapéu encobrir-me o olhar.
Nada faço pra evitar o vento,
Mas escondo do tempo as rugas que em minha face fez brotar.
Dirijo-me ao carro
Percebendo o orvalho umedecer a sola dos velhos sapatos negros.
Acendo um cigarro
Depois de um rotineiro escarro pra espantar os meus medos.

Não que me faça bem o que vou fazer...
Mas penso ser gentil com quem faço.
Livrar alguém de viver essa vida passo a passo
É adiantar-lhe o grande momento do viver...

[...]

Carro estacionado ao fim da rua
Inicia-se minha sina: findar a sua
Defender-te desse arremedo de vida
Despertar-te dessa noite mal dormida

Passos leves pra invadir tua prisão
Pois chamas de lar o que tenho por clausura
Assim como chamo de remédio o que tens por loucura

Poucos minutos restando pra mitigar teu coração,
Livrar tua alma desse teu escuro porão.
Entenderás que aqui a voz do “livre arbítrio”
Não soa nem mais alto nem mais forte que teus gritos.

domingo, 2 de março de 2008

As boas vindas... (mais a título de ser uma introdução do que uma simpática recepção convidativa).

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Sejam bem-vindas... Pessoas de vidro.
Ecoem transparentes quando lhes convir...
Não escutem os outros, mas sempre se façam ouvir

Permaneçam eternas no relento natural
Sejam efêmeras nas mãos de uma criança
Façam a dança,
enquanto a alma se cansa de viver num umbral

Sirvam-lhes dúvidas quando precisarem de exatidão
Em sua boa vontade, ofereçam só seus restos
Sejam lestos,
Ao negar bem de perto os pedidos de perdão.

Mostrem-se frágeis ao se criar
Preservem-se afiadas quando se quebram
Imutáveis na frieza do pensar
Inconstantes no calor do momento

Mas sejam sempre bem-vindas...
Pessoas de vidro.